segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A resistência parlamentar à ditadura

A ditadura civil-militar, instalada no Brasil a partir de abril de 1964, fez questão de manter a aparência de democracia. Com o parlamento funcionando, apesar de algumas interrupções, havia a impressão de liberdade política no país. No entanto, as forças agrupadas em favor do retorno à democracia insistiam em dar demonstrações ostensivas da existência de um regime autoritário e de uma luta contra a ditadura. Cassações, prisões, torturas e assassinatos conviviam ao lado de uma aparente normalidade, uma vez que a ditadura insistia em negar a existência de presos políticos e afirmava que os desaparecidos nunca foram presos e nem estavam em seu poder.

O humanista Apolônio de Carvalho

A trajetória do revolucionário que combateu pelas liberdades democráticas e conquistas sociais.

“Quem passa pela vida e não tem nenhum horizonte definido, nenhum ideal que possa e queira lutar, está sujeito à mediocridade”.

por Aline Scarso

O preso político Newton Leão Duarte conta no livro 68: a geração que queria mudar o mundo: relatos um fato extraordinário presenciado em 1970, quando estava encarcerado no Prédio de Investigações Criminais (PIC) do 1º Batalhão de Polícia do Exército, no Rio de Janeiro (RJ). Na ante sala da sua cela, pela primeira vez pode observar um preso enfrentando os torturadores, que o obrigavam a tirar a roupa para iniciar a sessão de abusos.

Começou-se uma luta corporal e aos gritos o tenente inquisitor chamava os cabos de guarda para ajudá-lo. “Com a chegada dos reforços, o recalcitrante, que insistia em não se submeter ao capricho dos carrascos, foi dominado e fez-se silêncio”. Depois disso, Duarte diz que pode observar o preso lutador: “Vi um homem de meia idade, deitado com a barriga para baixo, as mãos e pés amarrados às costas, o corpo marcado pelos sinais da luta, maltrapilho, porém, vitorioso porque vestido!”, conta.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Perseguidos pela ditadura recebem reparação do Estado

Comissão da Anistia julgou 23 processos movidos por filhos e familiares

por Caros Amigos

Dificuldades em adaptação, prejuízos escolares e com a língua, falta de integração ao voltar para o Brasil e até acusação de terrorismo foram alguns dos relatos ouvidos na última sessão de julgamento da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Durante a quinta-feira (2), foram julgados 23 processos de filhos e familiares de perseguidos durante a ditadura. À época, quase todos eram crianças e foram forçados a viver no exílio com seus familiares. Todos os processos foram deferidos.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Silvaldo Leung Vieira, o fotógrafo do corpo de Herzog

por Lucas Ferraz

A foto de Vladimir Herzog morto nas dependências do DOI-Codi em outubro de 1975 tornou-se um símbolo da repressão promovida pela ditadura (1964-85). A tentativa falhada de simular o suicídio do jornalista enfraqueceu a linha dura. Pela primeira vez, o fotógrafo Silvaldo Leung Vieira fala à imprensa.

Henri Cartier-Bresson, fundador da mítica agência Magnum e mestre francês da fotografia, definiu num célebre ensaio de 1952 a arte do fotógrafo como a capacidade de captar um instante decisivo, para o qual deve estar alerta.

"Enquanto trabalhamos, precisamos ter certeza de que não deixamos nenhum buraco, de que exprimimos tudo; depois será tarde demais, e não haverá como retomar o acontecimento às avessas", escreveu ele.

O instante decisivo na vida do fotógrafo santista Silvaldo Leung Vieira foi também um instante decisivo para a vida política brasileira. Aluno do curso de fotografia da Polícia Civil de São Paulo, Silvaldo fez em 25 de outubro de 1975, aos 22 anos, a mais importante imagem da história do Brasil naquela década: a foto do corpo do jornalista Vladimir Herzog, pendurado por uma corda no pescoço, numa cela de um dos principais órgãos da repressão, o DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna).

Publicada na imprensa, a imagem corroborou a tese de que o "suicídio" de Herzog era uma farsa. No mesmo local, três meses depois, o mesmo fotógrafo testemunharia a morte do metalúrgico Manoel Fiel Filho. Assassinado sob tortura, ele também foi apresentado pelo regime como "suicida".

Historiadores são unânimes: ambas as mortes foram decisivas para mudar os rumos da ditadura.