quinta-feira, 28 de abril de 2011

Onde estão as imagens de Geraldo Vandré?

Cineastas e pesquisadores acreditam que paranoia dos Anos Médici “apagou” registros em movimento do compositor paraibano Geraldo Vandré

por Maria do Rosário Caetano

No dia em que completou 75 anos (12 de setembro do ano passado), o cantor e compositor paraibano, Geraldo Vandré, sugeriu ao repórter Geneton Moraes Neto que procurasse, nos arquivos da Rede Globo, o VT (videotape) com a as imagens do imenso coro que acompanhou, no Maracanãzinho, os versos de “Caminhando” ou “Pra Não Dizer que Não Falei das Flores”.

“Aquilo (o Maracanãzinho lotado) foi bonito, muito bonito. Pena que eu não possa ver o VT”, lamentou a Geneton, que o entrevistava na sede carioca do Clube da Aeronáutica. E prosseguiu: “estão guardando o VT não sei para quê. Quero ver o VT. Lá na sua estação (Rede Globo) devem ter. Procure lá. Consegue o VT para ver!”

Decisão inédita: crime de tortura não prescreve

A 5ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça gaúcho condenou o Estado do Rio Grande do Sul ao pagamento de R$ 200 mil, por danos morais, a torturado durante o regime militar. Então com 16 anos, Airton Joel Frigeri foi buscado em casa em 9/4/1970 e levado algemado à Delegacia Regional da Polícia Civil de Caxias do Sul, depois ao Palácio da Polícia em Porto Alegre e detido na Ilha do Presídio, situado no rio Guaíba em frente a capital. Foi posto em liberdade em agosto do mesmo ano.

O autor da ação narrou que, com o objetivo de conseguir informações sobre outros participantes da VAR-Palmares, foi interrogado várias vezes por meio de tortura por choques elétricos nas orelhas, mãos e pés, por meio de um telefone de campanha, chamado Maricota. Permaneceu longos períodos com algemas nos braços. Recebeu golpes com o Papaléguas, pedaço de madeira preso a uma tira de borracha de pneu com cerca de 40 cm de comprimento por 4 cm de largura. No Palácio da Polícia, escutava a tortura sendo aplicada a outras pessoas.

sábado, 23 de abril de 2011

Depoimento de Julio Senra



Ao fim de cada capítulo, da novela Amor e Revolução, do SBT, seres humanos reais, tanto aqueles que defenderam o regime militar como os que o enfrentaram e sobreviveram, dão depoimentos detalhados, em primeira pessoa. Das vítimas da tortura, relatos num nível de profundidade e numa extensão que nunca se viu na TV brasileira.

Por esses depoimentos, Amor e Revolução vale a pena. Ela ajuda o País a desvelar o tabu, a libertar dos arquivos mortos um assunto que os brasileiros têm o direito de conhecer. Isso não significa revanchismo nem pleitear a devida punição aos torturadores e a seus chefes. Trata-se simplesmente de saber o que aconteceu nas masmorras dos anos 60 e 70, e só por isso vale torcer para que o tema da novela ganhe mais repercussão, apesar da própria novela. Amor e Revolução é estimável por levantar um tema que ainda é tabu.

Grupos de extermínio matam com a certeza da impunidade

Passeata lembra os extermínios realizados na Baixada Santista em 2010

Neste mês, completa-se 1 ano do extermínio de 27 pessoas ocorrido na Baixada Santista, no Estado de São Paulo, pela Polícia Militar e grupos paramilitares. As mães de maio promoveram uma passeata quinta-feira, dia 21, em homenagem às vítimas.

As investigações indicam a participação de policiais militares em chacina na Baixada Santista Até agora, foram presos 23 PMs suspeitos de envolvimento nas mortes do litoral.

por Tatiana Merlino

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Liberdade de Expressão

por Luiza Erundina

A Câmara dos Deputados lança a “Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e o Direito à Comunicação com Participação Popular”. É uma iniciativa de parlamentares, em parceria com entidades da sociedade civil, e visa a promover ações que assegurem o direito à liberdade de expressão e o direito à comunicação.

O direito à liberdade de expressão, previsto no artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos e nos artigos 5º e 220 da Constituição Federal, enfrenta hoje dois tipos de obstáculos que demonstram a necessidade e justificam a criação desta Frente.

O diário do Araguaia

Em entrevista, o jornalista Lucas Figueiredo fala dos manuscritos de Maurício Grabois, líder da guerrilha, revelados na próxima edição de CartaCapital e que foram mantidos sob sigilo pelo Exército por 38 anos.

Durante 605 dias, o Velho Mário, nome verdadeiro Maurício Grabois, dirigente histórico do PCdoB e líder da Guerrilha do Araguaia, registrou em diário a saga dos 68 combatentes que se isolaram na Amazônia com o propósito de tomar o poder dos militares. Entre registros factuais e impressões pessoais, o comandante escreveu mais de 86 mil palavras até ser executado pelos militares em 25 de dezembro de 1973. O diário foi recolhido pelos seus algozes e, posteriormente, copiado em forma de documento digitado e guardado na grande gaveta de papéis secretos do Exército.

O mistério acabou. CartaCapital obteve uma cópia integral do diário. Trata-se de uma visão particular de Grabois, quase sempre sozinho a anotar os momentos de angústia e tensão na mata. Em entrevista, o jornalista Lucas Figueiredo, autor da reportagem de capa da edição que chega às bancas a partir desta quinta-feira 21, fala sobre o diário.

Ex-ditador argentino condenado à prisão perpétua

O ex-prefeito de Escobar e ex-subcomissário Luis Abelardo Patti foi condenado à prisão perpétua, a ser cumprida em cárcere comum, pelo assassinato de um militante da juventude peronista e o sequestro de um ex-deputado nacional na última ditadura militar argentina, entre outros crimes contra a humanidade cometidos durante a última ditadura.

Duas vezes prefeito de Escobar, deputado eleito impedido de assumir o cargo pelas denúncias que pesavam contra si e ex-subcomissário da Polícia de Buenos Aires, Patti recebeu assim a primeira condenação de sua vida, em particular pela privação ilegal de liberdade e pela participação no assassinato do militante da Juventude Peronista, Gastón Gonçalves, e pelo sequestro do ex-deputado nacional Diego Muñiz Barreto, assassinado logo em seguida em uma simulação de acidente.

domingo, 17 de abril de 2011

Arquivo Nacional: a repressão detalhada nos documentos da Aeronáutica

A supervisora do Núcleo de Acervos do Regime Militar do Arquivo Nacional, Vivien Ishaq, afirmou que é impressionante o número de pessoas espionadas pelo serviço de inteligência da Aeronáutica durante a ditadura militar. Ela chegou a esta conclusão depois de analisar parte dos 50 mil documentos repassados pela Aeronáutica ao Arquivo Nacional ano passado. Os documentos estão liberados à pesquisa. Parte dos papéis - que dizem respeito à vida pessoal de ex-militantes políticos - só pode ser acessada por eles ou por pessoas devidamente autorizadas pelos investigados.

A quantidade de relatórios e de infiltrados (entre os movimentos de esquerda) é muito grande. Sobre o que você imaginar tem relatório. Tem gente que diz: "Achei que fazia as coisas na clandestinidade. Agora vejo que estava sendo monitorado" - afirmou Vivien.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Dossiê comprova aumento da repressão a ativistas no Brasil

Da redação Caros Amigos

Um relatório lançado em abril pelo PAD - Processo de Articulação e Diálogo - apresenta casos graves de violação de direitos e confirma o aumento da violência contra organizações da sociedade civil e movimentos sociais.

O relatório revela que opositores à construção da hidrelétrica de Belo Monte enfrentam ameaças e acusações há mais de duas décadas e que alguns sucumbiram diante da violência e abusos. Mostra ainda que pelo menos um milhão de pessoas sofrem por causa da construção de barragens, sem compensação real pelas perdas.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Militares querem que novela sobre ditadura no Brasil saia do ar

por Vivian Fernandes

A novela “Amor e Revolução”, que estreou na última terça-feira (05) no SBT, é alvo de abaixo-assinado promovido por militares que são contra sua exibição. O programa tem o período da ditadura militar no Brasil (1964-1985) em sua trama central e mostra cenas de tortura e perseguição aos militantes políticos da época.

A manifestação contrária à novela foi organizada através de um portal dos militares na internet www.militar.com.br (...)

Segundo a integrante da diretoria do Grupo Tortura Nunca Mais, Elizabeth Silveira Silva, ações como esta demonstram a tentativa de impedir a busca pela verdade desse período.

domingo, 10 de abril de 2011

Sobre a diferença entre democracia e liberdade

por Ana Helena Tavares

Democracia é uma praça cheia de gente

Pessoas de todos os sexos, etnias e credos, que, dentro dos limites de uma Constituição representativa, que cria parâmetros e norteia, não têm medo de expressar suas opiniões e, ainda assim, convivem em harmonia, tolerando pacificamente o contraditório.

Seja a Cinelândia, das passeatas com milhares, seja aquela pracinha de sua cidade interiorana. Lá na velha Athenas, foi assim que a palavra democracia foi criada: para ser abrigada num púlpito público, localizado no centro da pólis (denominação dada às antigas cidades gregas que deu origem ao nome política), cujo objetivo era dar voz a todos, sendo respeitada a vontade soberana da maioria. Vale o que mais de 50 por cento acham bom.

O significado da democracia

As conspirações contra as instituições e as demonstrações de insubordinação nos anos 1950 e 1960, além de frequentes, se alimentavam quase sempre do velho (e, no caso, paradoxal) argumento da defesa da legalidade constitucional e da democracia. Uma delas, inclusive, poria fim justamente à ordem legal e democrática que marcou o período pós-Estado Novo, iniciando um ciclo autoritário que perduraria por 21 anos, deixando graves sequelas das quais ainda hoje tentamos nos livrar.

Artigo de Douglas Attila Marcelino

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Golpe de 1964: os jornais e a "opinião pública"

Estudar e conhecer melhor os vínculos dos grupos de mídia com a articulação golpista do início da década de 60, além de ser nosso dever para com aqueles que tombaram pelo caminho, pode nos ajudar – e muito – a compreender o que ainda ocorre na democracia brasileira de nossos dias. quais justificativas eram utilizadas pela própria mídia para contornar a evidente contradição existente entre o seu discurso em “defesa da democracia” e, ao mesmo tempo, a articulação e a pregação abertas de um golpe de estado contra o presidente da República democraticamente eleito?

O artigo é de Venício A. de Lima

terça-feira, 5 de abril de 2011

A década em que vivemos em perigo

por João Roberto Martins Filho

O golpe militar de 1964 não foi uma fatalidade. A derrubada de Goulart não era nosso destino inexorável. Erros de avaliação política e golpes da fortuna colaboraram para um desfecho que, embora provável, não estava escrito nas (quatro) estrelas.

Mais uma vez, Maquiavel estava certo: acaso e virtú conduzem a história por caminhos imprevisíveis. Ao subestimar a capacidade de arregimentação de seus adversários e ao superestimar as capacidades da frente popular nacionalista, a esquerda facilitou sua derrota.

Mas o movimento de 31 de março não foi uma surpresa. Entre 1954 e 1964 mais de duas dezenas de manifestações militares agitaram a vida política do país. Num quadro de profunda divisão ideológica, tanto a direita quanto a esquerda brincaram com o fogo do pretorianismo. No Brasil dos anos 1950, todos os grupos políticos procuravam atrair expoentes e facções militares para suas posições.

Reação a Bolsonaro mostra o Brasil cansado da infâmia

por Hamilton Octavio de Souza

O Deputado Bolsonaro todo mundo conhece. É quadro da direita mais atrasada do Brasil, o sujeito que ainda acredita na truculência da Ditadura Militar, na truculência da polícia contra pobres e negros, na truculência dos pais na criação dos filhos. Está fora da realidade e do projeto de construção de um mundo melhor.

Há muito tempo que o Deputado Bolsonaro escandaliza o Brasil. Já fez discursos defendendo a volta do regime militar, ataca sistematicamente os direitos humanos, é contra a Comissão da Verdade, vive posando de macho polemista nos programas de TV e rádio que especulam e sensacionalizam as causas LGBT, das mulheres, dos negros e dos pobres em geral.

Ele segue a política do bate-bate, numa época em que boa parte da humanidade tenta vencer a guerra, os regimes ditatoriais, os métodos mediáveis, o obscurantismo e a ignorância. Tentamos, todos nós, entrar na era do politicamente correto, no tratamento correto das questões ambientais, das questões de gênero, das questões de orientação sexual. Queremos superar os traumas preconceituosos produzidos pelas religiões, pela estrutura familiar antiquada e pela sociedade fascista, e pelos interesses econômicos quando predominam sobre as relações humanas.

sábado, 2 de abril de 2011

O discurso de Jango e o golpe de 1964



Discurso de João Goulart no comício de 13 de março de 1964, na Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Poucos dias depois, em 1 de abril, os generais - a serviço dos latifundiários e do grande capital nacional e estrangeiro, com o apoio direto do governo dos EUA e o respaldo da mídia patronal - deram o golpe e depuseram um presidente eleito democraticamente, que prometia importantes reformas de base no país.

O Discurso

Devo agradecer em primeiro lugar às organizações promotoras deste comício, ao povo em geral e ao bravo povo carioca em particular, a realização, em praça pública, de tão entusiasta e calorosa manifestação. Agradeço aos sindicatos que mobilizaram os seus associados, dirigindo minha saudação a todos os brasileiros que, neste instante, mobilizados nos mais longínquos recantos deste país, me ouvem pela televisão e pelo rádio.

Dirijo-me a todos os brasileiros, não apenas aos que conseguiram adquirir instrução nas escolas, mas também aos milhões de irmãos nossos que dão ao Brasil mais do que recebem, que pagam em sofrimento, em miséria, em privações, o direito de ser brasileiro e de trabalhar sol a sol para a grandeza deste país.

A mentira de 31 de março de 1964

No dia 1º de abril de 1964, a conspiração que uniu as altas esferas do empresariado brasileiro, os latifundiários, os chefes militares, a hierarquia católica conservadora e agentes do imperialismo dos EUA depuseram o presidente constitucional João Goulart e deram início à ditadura militar que marcou as duas décadas seguintes pelo sangue dos patriotas e democratas, pela destruição da democracia e do Estado de Direito no Brasil.

Desde aquele dia inaugural da ditadura, a data que tem sido lembrada é a da véspera, 31 de março, pela folclórica razão de que, sendo o 1º de abril o dia da mentira, o golpe militar se tornaria alvo de chacota entre o povo.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Desordem e Regresso naquele 1º de abril…

por André Raboni

Hoje é sexta-feira dia 1º de abril – o dia da mentira. Há 47 anos o Brasil mergulhava em duas longas décadas de regime militar que iria perseguir, sequestrar, torturar e matar, em nome do Estado, quem ousasse se opor aos militares.

Sob o lema Brasil, ame-o ou deixe-o, atrocidades bizarras foram cometidas em nome da ordem e do progresso da nação: sessões de tortura com choque elétrico nos sacos masculinos e nas vulvas femininas; mortes macabras como a do Padre Henrique e a de Vladimir Herzog são apenas alguns exemplos.

A partir daquele dia 1º de abril de 64, o Brasil enveredava num tempo ainda hoje obscuro: a maior parte dos arquivos do período permanece trancafiada, numa clara afronta ao nosso direito constitucional à verdade e à informação.

As heranças da ditadura no Brasil

por Edson Teles

Em agosto de 1979, o Congresso Nacional brasileiro, ainda sob a vigência do regime militar, aprovou a Lei de Anistia, que em seu texto dizia: estão anistiados “todos quantos, no período compreendido entre 2 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexos com estes”. Na época, após 15 anos de ditadura, os militares cederam às pressões da opinião pública e a oposição aceitou a anistia proposta pelo governo, ainda que parte dos presos e perseguidos políticos não tenha sido beneficiada. Simbolicamente, foram considerados, sob a decisão de anistiar os crimes “conexos” aos crimes políticos, anistiados os agentes da repressão. Contudo, podemos dizer que não teriam sido anistiados os torturadores, pois cometeram crimes sem relação com causas políticas e recebendo salário como funcionários do Estado. Os mortos e desaparecidos políticos não foram considerados e o paradeiro de seus restos mortais nunca foi esclarecido. Era o marco da transição da ditadura para o Estado de Direito, visando superar – e mais do que isso, silenciar – o drama vivido diante da violência estatal.

As razões do golpe de 64

por Emir Sader

As visões descritivas dos grandes acontecimentos históricos tendem a reduzi-los a contingências – a Primeira Guerra, a um episodio menor – ou a idiossincrasias – a personalidade de Hitler. No caso do golpe no Brasil, a imprensa golpista da época se centrava nos supostos “abusos” do governo Jango, que teriam levado à intervenção dos militares para “salvar a democracia” – lugar comum nos editoriais da época.

O movimento que desembocou no golpe de 1964 na realidade vem de longe. Podemos remontá-lo ao começo da Guerra Fria, no fim da Segunda Guerra e no começo do segundo pós-guerra, quando os EUA reciclavam sua definição de inimigos do bloco derrotado na guerra, para a URSS. Não seria possível explicar a brutalidade das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, sem levar em conta a nova atitude norteamericana de mostrar para a URSS sua superioridade nuclear, que iria definir o começo do novo período. De capa da revista Times há poucos anos antes, como herói da luta pela democracia, Stalin se tornava a encarnação do mal que haveria que evitar: o “espectro do comunismo”.