sábado, 14 de agosto de 2010

O PLENO E O VAZIO


Sei que este espaço é de interesse coletivo, e me perdoem por essa dor que é minha, mas hoje eu estou muito, muito triste, perdi uma grande amiga e companheira, e o mundo certamente ficou pior, muito pior. Clayre pra você:

O PLENO E O VAZIO
Carlos Drummond de Andrade

Oh se me lembro e quanto.
E se não me lembrasse?
Outra seria minh'alma,
bem diversa minha face.

Oh como esqueço e quanto.
E se não esquecesse?
Seria homem-espanto,
ambulando sem cabeça.

Oh como esqueço e lembro,
como lembro e esqueço
em correntezas iguais
e simultâneos enlaces.
Mas como posso, no fim,
recompor os meus disfarces?

Que caixa esquisita guarda
em mim sua névoa e cinza,
seu patrimônio de chamas,
enquanto a vida confere
seu limite, e cada hora
é uma hora devida
no balanço da memória
que chora e que ri, partida?